Sempre fui encantada pelas máquinas, desde pequena. Lembro com amor de minha primeira aula de tecnologia. Aquele equipamento insipido e que dava um trabalhão para escrever uma unica linha. Mas me fazia pensar no que aquele monstrengo nos encaminharia um dia.
Pouco depois, o primeiro computador chegou em nossa casa. Enquanto minha mãe colocava as receitas em ordem, meu pai já fazia planilhas de trabalho e eu espiava como se em um futuro muito próximo, aquele monitor fosse me pedir em casamento. Era uma paquerinha sadia. Ali, eu ja sonhava com o dia em que eu fosse digitar mais rápido do que meus pensamentos voavam.
O casamento não demorou para consolidar-se. Claro que, como em qualquer outra relação, eu tinha muito medo e logo estaria dependente, viciada, obsecada. Tomava inicio uma relação doentia, que já sufocava qualquer outra conexão com o mundo externo. Divórcio não era uma opção.
Decidi aprender mais sobre este novo parceiro, estudar em detalhes para que pudessemos manter uma relação estável e duradoura.
Anos mais tarde, diplomada, pensava saber tudo sobre os bancos de dados e como manipular as máquinas para que elas não me dominassem. E eu estava tão enganada.
A tal da internet chegava de mansinho. Era dificil de chegar até ela e não bastava apenas ter um acordo. Era preciso ligar e cultivar. Com muita paciencia, uma chamada telefônica e um zoim-zoim-zoim chato, poderíamos acessá-la. Muito pouco ainda encontravamos naquela fazenda que quase não tinha dono, mas já era um armazém de ilusões.
Um dia, andando por um centro de compras, conheci aquele que logo seria meu amante. Fui apresentada a um tal de celular e garanto que foi amor à primeira vista. O nosso reencontro demorou, mas chegou. Meu amor estava dividido. Ele era grande, pesado e nada jeitoso. Fora a promessa de nunca mais ter de decorar um número de telefone e claro, as chamadas telefônicas em si, não tinha outras funções. E ainda assim eu estava apaixonada. Perdidamente apaixonada.
As coisas começavam a andar rápido demais. Um dia foi o DVD, no outro o DVDR e então….. tumtum! vi meu coração acelerar mais um vez. E lá estava eu, apaixonada de novo. Era um computador portátil que acabava de chegar. Caro, pesado e não comportava toda a minha memória de vida. Mas ainda assim, eu queria aquela arriscada relação amorosa.
Dali pra frente, parece que uma força destruidora qualquer queria arrebatar meu coração. Uma criação por ano, depois por mês, por semana até chegarmos onde estamos. Por hora!
Imagino que meu querido marido PC ficou velho e partiu. Não mais faz parte de minha vida.
Porém acredito que aquele tal celular também se apaixonou por mim e está até hoje comigo. Perdeu peso e fez algumas plásticas para que eu continuasse perdidamente apaixonada por ele por todos estes anos e hoje oferece tanto que sem dúvidas, não vivo sem ele.
O portátil também continua comigo. Bem mais magrinho e inteligente do que quando fomos apresentados, e sem dúvida mais rápido em responder minhas demandas.
Por todo amor que tenho por essas criaturas, fundamentais em minha vida, eles não são substitutos para as minhas relações humanas. Eles me ajudam muito mais do que eu esperava quando os conheci, mas minha familia e meus amigos continuam insubstituiveis.
Paula Tooths