Crise migratoria e os refugiados

Acredita-se que a maior crise migratória que a Europa já atravessou foi no período de 2014 a 2016, mas as rotas tiveram inflação iniciada em 2000 com a crise econômica global.

A crise surgiu com o montante de migrantes irregulares que tentavam aterrissar em terras Europeias, usando métodos perigosos. A maneira mais comum até hoje, são os barcos improvisados e sem segurança, que atravessam vagarosamente todo o mediterrâneo.

No Reino Unido, os refugiados foram sem duvidas umas das maiores razões pelo voto a favor do Brexit, mas muitas pessoas ainda confundem asilo e refugio. O referendo foi decidido em meio a crise migratória.

Asilado x Refugiado

O contexto e requisitos destas duas categorias são exatamente os mesmos, na comunidade européia e na maioria dos países mas existem algumas variáveis de acordo com cada país, porém, a base deste artigo será o Reino Unido e a Comunidade Européia.

O refugiado e o cidadão (ou o grupo de) que não pode permanecer em seu próprio país porque corre risco de vida de maneira seria e em seu país de origem não contou com proteção suficiente. O temor de perseguição precisa ser suficientemente fundado.

O imigrante que entrou ilegalmente e pede sua legalização já de dentro do país onde chegou, e um asilado e só tem seus direitos concedidos posteriormente, quando este torna-se um refugiado.

Quem são os migrantes?

De acordo com a Frontex (European Border and Coast Guard Agency), 2016 foi o ano de maior alerta. Em 2016, foram detidos 511. 046 ilegais tentando cruzar fronteiras européias e em 2017, menos da metade, com o total de detenção de 204 718 ilegais. Em 2015, só no mês de julho foram 108 mil, mas foram contabilizados  340. 004 ilegais durante o ano todo.

As três nacionalidades com maiores números de imigrantes ilegais em 2017 foram a Síria (19. 447), a Nigéria (18. 309) e a Costa do Marfim (14. 300).

Em 2016, a rota leste mediterrâneo (Síria, Iraque e Afeganistão) contou com a travessia de 182. 277 cidadãos, mas a rota foi massivamente reduzida em 2017, quando 42. 305 ilegais tentavam a mesma rota. Já a rota pelo centro mediterrâneo (Nigéria, Guiné e Costa do Marfim)teve 181. 376 ilegais na travessia durante 2016 e 118 962 em 2017.

Por terra, foram negados mais de 162 mil pedidos em 2016 e pouco mais de 127 mil em 2017. Pela borda aérea, foram negadas 50 mil entradas em 2016 e o número repetiu-se em 2017. As fronteiras marítimas contaram com um número bem menor de pedidos negados – quase 8 mil em 2016 e 6.5 mil em 2017

Travessia clandestina

Anualmente milhares de pessoas arriscam suas vidas, fugindo de conflitos geralmente políticos e em condições precárias cruzam o deserto do Saara e o Mediterrâneo. Estima-se que mais de 5 mil pessoas morrem durante a travessia a cada ano. As viagens terrestres custam ate U$10.000 por cabeça e as marítimas, dependendo da complexidade e logística, até U$50.000.

Existe também o mercado não oficial, travessias efetuadas por empresas conhecidas e por estes métodos, a viagem pode custar ainda mais caro. Testemunhamos pouquíssimos casos via companhias aéreas, mas muitos por cruzeiros e serviços de carga tanto via terra como marítimo.

Países Afetados

Durante a crise, no final de 2015, a Comunidade Européia tentou estabelecer que cada país integrante tivesse uma cota de refugiados obrigatória, para distribuir as 160 mil pessoas que já estavam na Europa e os 400 mil que já estavam em rotas marítimas, como calculado pela organização.

Hungria, Polônia, Republica Eslováquia e a República Tcheca rejeitaram o pedido e foram ameaçadas com penalização. A justificativa dos quatro países foi a mesma. A entrada de imigrantes, em sua maioria muçulmana, teria um impacto negativo na cultura local e possivelmente provocaria aumento nos índices de violência.

Aplicações  aceitas entre 2015 e 2016:

  • Alemanha 165
  • França 175
  • Suécia 005
  • Itália 566
  • Reino Unido 355
  • Bélgica 390
  • Áustria 610
  • Suíça 595
  • Holanda 590
  • Grécia 080

O preço de um refugiado no bolso do contribuinte Britânico

É interessante que a arrecadação dos últimos três anos cresceu, mas os custos também. Muito corte na rede publica de ensino bem como na saúde nacional que atende o povo britânico, entre outros serviços básicos; mas de uma árvore de dinheiro que ninguém conhecia a existência, muita verba foi encontrada para custear o fundo de refugiados.

Benefício Pensão por idade (65+) Imigrantes ilegais ou
refugiados morando
nos Estados Unidos
Auxílio Semanal £100 / R$ 502,00 £250 / R$ 1255,00
Auxilio esposa £25 / R$ 125,00 £225 / R$ 1129,00
Auxilio dificuldades 0 £100 / R$ 502,00
Total ano £6000 / R$ 30.132 £29.900 / R$ 150.152,00

 

Note na tabela acima que um aposentado recebe no máximo £6000 ao ano, enquanto um imigrante ilegal ou refugiado no Reino Unido cerca de £29.900, além de outras facilidades que listo a seguir. O aposentado pagou imposto toda a vida e em muitos casos ainda contribui, já a segunda categoria, não paga e provavelmente não pagará nunca.Para aqueles ilegais que já estão no país e aguardam o documento de concessão, recebem moradia temporária, auxilio alimentação e como não podem trabalhar porque (ainda) não tem autorização, também recebem uma ajuda extra de status e possibilidade de empréstimos governamentais. Os valores são variáveis, mas vamos considerar que aluguel em Londres e alto e um quarto para dividir custa cerca de £100 (R$502) semanais. Alimentação em terras britânicas, também não e barato. O mínimo e de £50 (R$226) semanais e a ajuda de custo pode chegar a £72 (R$361) semanais (quando maior de 18 anos, casado).

A famosa dança de passaportes

Existem algumas famosas transações na venda de passaportes. A de vivos e a de mortos, a de ilegais que preenchem os requisitos para o refugio e a de cidadãos que ja eram europeus ou se naturalizaram em algum ponto.A venda de passaporte de pessoas vivas e feita por especialistas que de maneira artesanal trocam as fotos originais por uma foto de um candidato a atravessar uma determinada borda. São várias as subcategorias. Pessoas vendem seus passaportes porque precisam de dinheiro, outras literalmente emprestam para familiares só para atravessar a fronteira, outros para o terceiro trabalhar ilegalmente ou abrir uma conta em banco. São passaportes verdadeiros com foto alterada que, geralmente retornam ao dono ou são cancelados em curto prazo, dado como extraviados. Este empréstimo tem custo conhecido de £10mil (R$50.200).O passaporte de mortos também é bem popular, mas é um processo muito mais complexo de um sistema organizado geralmente por pessoas ligadas de alguma maneira aos órgãos governamentais locais. Quando uma pessoa morre e nenhum familiar busca pelo morto, a organização pesquisa (ou já sabe) de quem era o corpo e com os detalhes, aplica por um passaporte ou documento de identificação que vai ser usado posteriormente por um ilegal que vai estabelecer-se na Europa e sim, passara a usar a identidade da pessoa morta por tempo indeterminado. O processo custa cerca de £20.000 (R$104.000) e leva de 20 a 60 dias para ser concluído.É válido lembrar que toda e qualquer venda e ou compra de documento é ilegal e pode ser punida de acordo com as leis do país em que o usuário, intermediário ou vendedor for capturado. A pessoa que vende, bem como intermediários e a pessoa que efetua a compra também está cometendo um crime contra a integridade e segurança pública.

Oportunidades

É comum encontrar refugiados que eram doutores em medicina em seus países e agora trabalham na faxina, engenheiros que viraram mestres de obra. É bastante difícil validar um diploma. Os candidatos precisam estudar novos créditos (média de 3 anos extras na Universidade) e também custos (de £50 a £500/ app de R$250 a R$2500 só pela documentação).Os refugiados ainda contam com preconceito, porém em sua maioria, querem manter a cultura e não fazem esforço para integrar-se nos países da comunidade Européia. As crianças são matriculadas nas escolas e não tem interesse em falar inglês (ou língua local), quando o país ganha mais um custo com interpretes. O mesmo acontece nos hospitais e clinicas. O governo tem um custo considerável porque os pacientes não querem aprender e não falam inglês ou a língua local, no caso dos outros países da comunidade.Escolas de inglês e tutores privados são oferecidos aos refugiados, bem como cursos profissionalizantes. Gratuito para o refugiado, mas de alto custo ao contribuinte.

Outros custos

Todos os custos jurídicos são gratuitos. Existem escritórios (bureaus) distribuídos por todo o país que vão atendê-los sem maiores perguntas. De acordo com a lei Britânica, se o cidadão não pode pagar, o governo paga.Centros comunitários, centros de atendimento psicológico e psiquiátrico, organizações de suporte a vitimas de abuso sexual, físico ou psicológico e tantos outros. Todos pagos com o dinheiro recolhido do contribuinte.Nos casos de aplicações para refugio negadas, podem ser recorridos e os custos são pagos pelo governo. Se não recorridos, os refugiados são enviados de volta aos seus países de origem, geralmente de avião, também custeados pelo governo. Ainda existem os refugiados e ilegais que aplicam para o retorno a seus países voluntariamente. No caso da Inglaterra, o governo compra a passagem e dá também uma ajuda de custo em dinheiro. O programa “de volta para casa” existe em muitos países. É organizado por grandes fundações como “direitos humanos internacional” mas custeados pelo governo local.O custo de naturalizar-se britânico também é alto e não é pago pelo governo. (pelo menos ainda não). Mas os refugiados misteriosamente encontram £2000 (aproximadamente R$10.000) para pagar a documentação, sem incluir traduções, curso obrigatório e cerimônia.

Impacto

Não é só a pressão nas forças armadas mas também o alto custo para manter múltiplos grupos de oficiais nas fronteiras, principalmente marítima, mas evita que novos imigrantes atravessem e clandestinamente aqui entrem e fiquem.Muitos acidentes e naufrágios, aumentando o desgaste e o preço na conta dos refugiados no bolso do europeu e também aumento na lista de responsabilidades de cada um dos países.O impacto do cruzamento de fronteiras ainda e um desafio para os países da comunidade. Hoje, o contrabando de drogas e armas, que usa as mesmas rotas, já é maior do que o contrabando humano.A pressão e a super população principalmente na área sul da Europa só tem aumentado. Com os refugiados, aumenta o numero de estudantes na rede publica de ensino, o numero de pacientes, na rede nacional de saúde e os custos do país em geral.A crise migratória não diminui e está longe de acabar. Os novos viajantes são criativos, montam rotas novas, desenvolvem diariamente métodos para camuflar-se nas fronteiras e surpreendem os oficiais.

 

O preconceito de maneira geral não foi gerado gratuitamente, mas conseqüência de conflitos diários. Os refugiados querem viver na Europa mas não querem viver a cultura européia.

 

Por Paula Tooths – Jornalista, produtora de TV e escritora, autora de quatro títulos publicados no Reino Unido

Originalmente publicado no Jornal na Pauta

O peso do refúgio na Europa