Desafie o tempo. Feliz 2021.

O tempo passa tão depressa. Mas o tempo só tem valor baseado naquilo que você faz com ele. Esse mesmo tempo que te rouba vitalidade, te envelhece, também te enriquece de conhecimento. Tempo que é referência, ainda é cruel. Tudo em seu tempo e não temos tempo para nada. Tempo que ensina e perdoa, é o mesmo tempo que te enaltece. Doutor tempo…. maldito tempo. Senhor tempo…. bendito tempo. Guardião, polícia, ladrão. Divindade ou uma passagem contínua de ocorrências?

 

Substantivo masculino intrigante que de nada mais serve para medir o espaço em que os fatos ocorrem. Dias, meses, anos. Seja lá o que predita esse tempo, curto período de 365 dias que está prestes a chegar, melhor desfrutá-lo.

 

Falta de tempo. Duas décadas de trilha que esgota qualquer professional que nunca conseguiu tirar férias, não tem tempo para a família e jamais pisca. Nesta época festiva, me dei o direito de folgar 48 horas. Ou quase isso.

 

Não é uma crise existencial. É um desabafo. Uma satisfação talvez. Ou talvez eu deixe mais perguntas do que respostas.

 

Quem convive de perto com essa tal Paula Tooths sabe que o celular está sempre ligado e a antena nunca baixa. Na noite Natalina o telefone tocou horrores e claro que não foram só os amigos e familiares. Já não bastava essa tristeza de Coronavírus e suas mutações, há também o Brexit e a podridão que chega com ele, os pacotes de benefícios nos Estados Unidos e tantos outros bla-bla-blás e mi-mi-mis que não permitiram meu descanso em sua plenitude.

 

Desliguei o bendito telemóvel e não demorou para abrir espaço para um trânsito infernal em minhas contas nas plataformas sociais. “Paula, você já viu isso?”; “Paula, você já tem informação daquilo?”; “Paula, você tem fonte segura que possa confirmar o assunto?” – quase coisa de maluco. Arghhhh!

 

Realmente precisa ser muito maluco para escolher a jornada da comunicação.

 

Cansei! Quero tempo. Quero paz. Quero respirar…. quero ter o prazer de tomar café da manhã com a minha família e abrir os presentes de Natal com meu filho. Desejo ver meu filho acordar todas os dias e com ele fazer as tarefas de matemática. Quero ser feliz.

 

O mundo te admira de longe, te crítica de perto, mas em momento algum avalia os sacrifícios que você faz para chegar aonde chegou.

 

“Nossa…. a Paula fala várias línguas”. Pois, sim. Mas você lembra todas aquelas festas que você foi e eu deixei de ir para poder estudar? Para passar na prova? E agora me pergunto – o que mais vale…. ter milhões de memórias com os amigos ou um idioma extra na bagagem?

 

“Wow, a Paula mora no exterior”. Sim, coleciono endereços em países diversos e carimbos infinitos nos meus passaportes. Bacana? Claro que sim, mas cada aniversario que você pode passar com a sua família, eu recebi um ‘feliz aniversário’ bem rapidinho pelo telefone.

 

Antes que você critique, sim – todos os passos foram opções. Minhas, tão minhas e só minhas. É muito importante lembrar que cada opção é uma renúncia e para cada opção, quanta coisa sacrifiquei. Perdi tempo. Ou ganhei?

 

Esse não é um texto de despedida ao (meu amado) jornalismo, não estou me aposentando e nem abandonando a embarcação, ou minha tripulação. Não vou fugir. Esse sim é um marco. Uma voz que ecoa com o vento e me conta que eu trabalho pra viver e não vivo pra trabalhar. O que vai passar agora? Simples. Vou ter de aprender a lidar com minhas ansiedades jornalísticas, minhas manias em investigar detalhes, com os meus vícios em deadlines e meus monstros perfeccionistas e, exercer o que tenho por direito – viver em paz, viver feliz. E ter mais tempo.

 

Dessa vez o chamado é mais forte. A idade avança, o corpo dói, a cabeça não acompanha. Preciso respirar, sem dúvida. Mas entendo a manobra como a necessidade de reduzir a marcha e caminhar mais lentamente para não deixar o motor pifar.

 

Claro que eu tenho outros desejos na vida além da informação. O jornalismo foi fantástico para mim nesses vinte e poucos anos. A chama da comunicação me nutriu, me fez mais forte, me enriqueceu culturalmente, mas eu completei o ciclo, cheguei aonde eu queria chegar e não há outra escada para seguir escalando. Deixo meu legado para os mais jovens seguirem, aqueles que muito tempo tem em mãos investigarem aquilo que não tive tempo.

 

Talvez em 2021 eu escreva todos os dias. Talvez não. Talvez eu redija um diário para contar as minhas peripécias com meus meninos, talvez eu produza mais um livro para deixar para meus netos. Talvez… talvez…. talvez…. nessa jornada chamada vida onde tudo parece hipotético, após um ano que tudo se mostrou anormal e finito, eu vou buscar simplicidade, com a esperança de que esta me traga felicidade.

 

Talvez em 2021 eu desafie o tempo. Talvez eu só faça uso dele de uma maneira mais sábia.

 

É exatamente porque a vida é tão frágil que decidi vive-la em sua puridade. A intensidade em que vivo – e isso vale para tudo – tem me deixado muito cansada. As vezes cansa até mesmo de ser essa tal Paula Tooths. Tenho vivido tão intensamente que chega a ser culposo. Sofro a dor dos outros. Choro as lágrimas dos outros. E assim sofro muito mais do que a maioria das pessoas. Na lógica mais burra, no jornalismo não dá pra ser assim. Minha praticidade e facilidade de adaptar e ajustar me foram muito fiéis durante esses anos, mas a calmaria me chama…. aos gritos. Quero viver as minhas próprias memórias, chorar as minhas próprias lágrimas, sonhar os meus próprios sonhos e claro, ter o meu próprio tempo.

 

Já tive pressa…. mas aprendi nessa jornada que a paciência é muito mais chic. E aprendi muitas outras coisas também, por isso desacelero agora. Na busca de resgatar minha alma e controlar o meu destino próprio, desacelero. Respiro. (E não piro).

 

O motivo é simples. Quero tempo para mim. Todinho para mim.

 

Profissionalmente e pessoalmente, o ano de 2020 foi maravilhoso. Desafiei, fui desafiada, mas encontrei equilíbrio. Sonhei, conquistei. Busquei, encontrei. Pedi, recebi. Fiz opções e consequentemente renunciei e selei sacrifícios para que muitas coisas fossem possíveis.

 

Não perdi a fé em nenhum momento de que cada projeto e plano seriam concretizados e vou encerrar este ano com chave de ouro. Desafiei o tempo, coloquei mais combustível nas veias e concretizei tudo o que precisava ser concretizado.

 

Já para o ano que entra, espero encerrá-lo dizendo:

 

Vivi! Fiz muitas memorias e fui muito feliz. Tive muito tempo!

 

Para cada um de vocês que leu até aqui, desejo que tenha um ano sábio. Sim, sábio! Que tenham sabedoria para bem valorizar o tempo. Com saúde, boa comida e um teto confortável.

 

Desejo que no final dessa trilha de 2021, cada um de vocês possa ter realizado cada um de seus sonhos e que possam controlar seu próprio destino. Que o tempo seja suficiente!

 

Todo mundo pode ser feliz. Tem de querer. Tem de buscar. Não brota do chão e nem cai do céu. Tempo não se faz, se administra. E com tempo em mãos, conquistamos.

 

Que sua ambição seja maior do que os obstáculos.

 

Um ano de sucesso para você! Seja lá o que sucesso significar para você.

 

Um ano com muito tempo!!