Perdida na direção certa

Escrevi esse texto com o coração. Decidi não revisar para não perder o foco e o sentimento que cada palavra apresenta por si ou representa para mim.

Quanto tempo eu levaria para revisar um contrato com um milhão de palavras? Sozinha, meses. Mas com um time promissor, rapidamente.

Quando comecei a ler aquele contrato que fui contratada para ser a líder da equipe de revisão, ganhei um laço no estômago.

Palavras que se amarravam para tornar cada um dos posteriores assinantes em prisioneiros no sistema jurídico.

O time estava bem dividido entre princípios e um projeto bem pago. Pensei muito por uma noite quando pedi todos os conselhos imagináveis a meu travesseiro e, na manhã seguinte solicitei meu afastamento.

Fui criticada arduamente, acusada de traição e de carregar comigo o conhecimento de informação confidencial que não me condizia. Quebrei um contrato quase inquebrável, mas essa história me fez parar para pensar.

O projeto foi finalizado em janeiro de 2020 e os contratos já estão vigentes, nas ruas. As traduções também. A empresa global, multimilionária, não está preocupada com quem assina, mas com a multiplicação das rendas. Infelizmente, por questões legais, não posso revelar o nome da empresa ou nem mesmo suas ramificações, mas recomendo que nunca assine um contrato sem ler e pensar bem.

Na comunicação há mais de duas décadas, nunca me senti cercada em tamanho apuro. Saias justas aqui e sustos ali, mas pela primeira vez enfrentei uma situação em que poderia prostituir meus valores.

Sim, gosto de informar, contar ‘causos’, relembrar, analisar, revisar e algumas vezes encontro comigo mesma nos corredores da tradução.

Depois dessa história, perguntei para cada gavetinha de minhas memórias o porque fui parar nessa trilha. E não demorei a responder.

Eu só buscava um mundo melhor. Um mundo informado. Pessoas que pudessem pensar por si e pudessem tomar decisões – mais sábias.

Amo ler e pesquisar, entrevistar, escrever e informar. Mas seria esse o melhor caminho para encontrar um mundo melhor?

Interessante que ali, me senti sem direção. Perdida e no caminho certo ao mesmo tempo. Perdida mas no caminho certo. A frase parece não ter sentido, mas para mim tem muito.

Perdida porque eu já não acredito na comunicação que tenho testemunhado, que se encanta com fragmentos de informação nem sempre certeiros mas que se espalham na velocidade da internet e se fazem verdade mesmo quando não são. Desiludida.

Eu sou muito diferente disso para quem não me conhece. Odeio julgamentos e rótulos. Gosto de honestidade e bom humor. Sonho com um mundo em que eu possa seu “eu” e você possa ser “você “.

Poética e dramática. Essa é minha maneira de escrever. Minhas palavras tem vida. Meus textos tem sentimentos e choram muitas vezes comigo.

No caminho certo porque em momento algum deixei que sonhar com um mundo melhor e mais informado. Mas um mundo com distribuição de notícia de maneira justa, honesta e sem cúpulas cafetinas que vendem-se por uma porção de dólares ou de favores. Sem sabores.

Talvez sim, esse seja um momento para pensar em aposentar-me da comunicação e tudo o que ela um dia significou para mim. Até porque a comunicação de hoje não é a mesma dos anos 90 quando fui batizada nessa jornada.

E de que maneira posso mudar o mundo?

Essa é uma pergunta que ainda rouba meus sonhos. Passei uma vida me perguntando o que eu queria ser quando crescesse e para ser sincera, nos meus 40 e tantos anos, ainda não tenho uma resposta.

De repente, crescer não é a resposta é talvez não seja tão necessário quanto a sociedade implica.

Até lá, sigo contando a minha história, educando, aprendendo.

Acredito em um mundo melhor e acredito com todo o meu coração que dividindo com o mundo as passagens de minha existência eu possa mudar vidas, destinos e histórias.